Um pouco mais da deep web e seu lado bom

Ainda falando sobre deep web mostrarei aqui o que fazer para entrar na deep web. Então sem mais delongas, vamos ao post.
Especialistas discutem qual é, de fato, a dimensão da internet; Não há uma resposta exata, mas é consenso entre eles que só temos acesso a uma mísera porcentagem, que varia de 1 a 10%, de todo o conteúdo online existente. As informações que acessamos são basicamente disponibilizadas por buscadores como Google e Bing, já o que não vemos – a maior parte – está no lado underground da coisa, na chamada Deep web. Para melhor entender, costuma-se comparar a internet a um iceberg: o que visualizamos de fato (via HTTP) é só a ponta do iceberg, e o que fica submerso em águas é a DW. Pense ainda na internet como uma cebola e em sua sobreposição de camadas. A camada externa é a parte mais acessível da web, já a Deep web representa as camadas internas da cebola. Mas porque está disponível apenas parte de toda a informação online?
Porque sim. Pensemos: temos acesso a todos os livros que existem no mundo? Não. E por qual motivo? (Sinto cheiro de teorias de conspiração!) Porque boa parte dos livros se perdeu, fato, mas outra parte está sob poder de instituições, órgãos e países. A internet não é tão diferente assim. Sabemos que governos, como o da China e o da Coreia do Norte, por exemplo, controlam o que entra e sai das redes online de seus países. Sim, a web não é tão livre; nada é tão livre assim. Ficou claro que a internet é controlável e limitadora, ainda que te permita trocar ideias com um turco sobre manifestações populares do outro lado do mundo.
A má fama da Deep web se dá pela sua não-oficialidade, já que funciona fora do protocolo oficial HTTP e é mais, digamos, livre, justamente por não estar amarrada ao meio tradicional. Acessar a DW pelo navegador padrão é impossível, precisaria baixar um outro chamado Tor que, diferentemente do Google, te deixa no anonimato, porém bem mais vulnerável a ataques de hackers e a vírus, já que não há o controle de segurança da web convencional; a Google, por outro lado, expõe tudo o que você faz, revelando quando você tenta entrar em um site suspeito e bloqueando sua navegação. A grande sacada do Tor é justamente te deixar anônimo por meio da troca de IP, suprimindo o da sua máquina e usando um outro qualquer, possibilitando, assim, que você rompa as camadas da web e filtros que buscadores te impõe sem que seja rastreado. Existe um outro ponto que vale ser esclarecido: algumas vezes criam-se sites e esquecem de indexá-lo a fontes tradicionais de busca e, por acidente, caem no submundo online sem que você saiba.
Página inicial do navegador Onion, cujo símbolo é uma cebola


As profundezas da internet são descritas como macabras e sombrias. Em parte, isso é verdade, mas bizarrices também são vistas na internet convencional. Se souber onde procurar coisas estranhas no Google, com jeitinho você acha. No submundo da web o mesmo se aplica, porém de forma mais intensa. É aquela velha história: “quem procura acha”. Ilegalidade, pornografia infantil, canibalismo, zoofilia e mortes horrendas são os termos recorrentemente ligados à Deep web, no entanto isso você encontra também na surface (as camadas externas da cebola). Conteúdo bom e ruim você vê em todo lugar; tem que saber dominar o que se tem em mãos, senão vira aquele caso da tia que quer procurar uma receita de bolo e acaba por baixar o programa tal e mais meia dúzia de “tranqueiras” na máquina sem saber. Falo isso por experiência própria.
Lá no “subterrâneo” online, você pode contratar hackers, assassinos, vender e comprar drogas, encontrar todo tipo de perversões sexuais, vídeos grotescos e negociar uma arma, mas convenhamos que ninguém precisa única e exclusivamente da internet para isso. O anonimato dá margem a esse tipo de coisas, mas também traz coisas positivas. Confira alguns dos serviços de utilidades da Deep web:
Wikileaks:
A tão polêmica página do Wikileaks veio do submundo online. Mas como hoje a acessamos pelo Google? Mole. A página, sem qualquer pretensão de se oficializar, foi publicando seus conteúdos e vazando informações online de governos inteiros. Causou aquele caos e conseguiram prender o seu fundador, Julian Assange. Com o crescente número de acessos, a página veio “boiando” até chegar na superfície da web e a Google se viu na obrigação de disponibilizar a página para acessos antes que outro buscador o fizesse. Claro, a página agora está bem mais controlada pela justiça e tem seu conteúdo constantemente vigiado. Como o controle do Wikileaks virou um problema de liberdade de expressão em escala global, para abafar o drama a Google continua a indexá-la e os governos mais poderosos permitiram que ela continue a existir, mas mantém Assange preso. Eu, particularmente, acho o Wikileaks meio confuso para se mexer. Estava procurando informação para uma matéria do Literatortura e acabei vencida pela falta de informações, visto que hoje só se encontram dados de ditadores de países do Oriente Médio ou do político uruguaio da cidadezinha pequena, que são os chamados “peixes pequenos”.
Baixadores de arquivos:
O mesmo caso do Wikileaks. Sites como, por exemplo, o Pirate Bay, vieram do submundo online, porém hoje são acessados no Google e disponibilizam músicas, vídeos e mais o que você quiser “for free”! Baixar arquivos de graça é ilegal, mas os sites nessa linha seguem aí, firmes e fortes. E todos sabem disso.
Anonymous:
O Anonymous ganhou fama no Brasil pela rede social Facebook durante as manifestações populares que estouraram esse ano, mas saiba que a legião, como se autodenomina, atua desde 2003 de forma internacional. O termo “Anonymous” parte da noção de não- identificação (daí o uso da máscara como símbolo), defendendo a ideia de muitos usuários online formando uma grande massa que funciona como um cérebro global, além de assumir a forma subcultural da internet, previsível para um site vindo da Deep web. O anonimato é a palavra chave do grupo e age no sentido libertário da internet e da expressão no geral, partindo para o ataque de grupos que controlam a liberdade, tais como autoridades, governos e instituições. Desde 2008, o coletivo está fortemente associado ao hacktivismo colaboracionista internacional, realizando protestos e outras ações, como derrubada de sites, acessar contas bancárias e divulgar dados secretos. Recentemente o grupo rastreou IPs de pedófilos que agiam na web e entregou estes às autoridades, assim como identificou o pedófilo que chantageou a canadense Amanda Todd, de 15 anos, com fotos que mostravam os seios da jovem, o que acabou levando- a à difamação na internet e depois ao suicídio.
 Primavera árabe:
Pasmem. Em um artigo publicado na Revista Galileu consta o seguinte trecho: ” Muitos correspondentes internacionais se comunicam com suas respectivas redações por meio da Deep Web. Países como Irã, Coreia do Norte e China costumam controlar a internet convencional, sobretudo se quem estiver navegando nela for um jornalista estrangeiro. Nesse caso, usar a Deep Web é um jeito de burlar a censura. Especialistas acreditam que a própria Primavera Árabe não teria existido sem a Deep Web. ” É, parece que as profundezas online têm sido bem mais “politizadas” do que se acredita.
 Prestação de serviços para governos e empresas:
Continuando a matéria da Galileu: “Existem até agências que se dedicam exclusivamente a monitorar a Deep Web. Assim como assessorias de imprensa têm que rastrear a internet em busca de menções online de seus clientes, a Bright Planet vasculha a DW para encontrar virtualmente qualquer coisa. Em seu site, eles dividem suas ações em três: Governo (“ajudamos o Serviço de Inteligência dos EUA na Guerra Contra o Terror), Negócios (“seu negócio depende de inteligência em tempo real sobre coisas como propriedade intelectual”) e Usuários Únicos (“indivíduos encontram dificuldade em usar os mecanismos de busca convencionais”). A Bright Planet não divulga sua cartela de clientes em seu site.” Ou seja, a DW serve aos mais variados serviços de inteligência, privados ou não. Vai ver é por isso que não te querem navegando em águas profundas, já que você corre o risco de descobrir muito mais do que desejam que você saiba.
Livros em português para download:
Sim, senhoras e senhores, livros vindo das profundezas! Sabe aquele livro em português que você não acha em canto nenhum? Talvez você o encontre na Deep web. Por questões de direitos autorais e burocracia, muitos títulos literários não estão disponíveis para download, mas como a DW é paralela a essa política, ela os disponibiliza para você. Sério, tem todos os títulos que você possa imagina dos mais variados gêneros e nacionalidades, porém não está muito atualizado. O submundo online revela bem mais do que bizarrices e funciona como um verdadeiro sítio arqueológico cultural. Mas será que vale o risco?
Li alguns relatos de pessoas que se aventuraram no universo underground e vi todo tipo de conselho, como “não clique em links que você não reconheça”, “não fale com ninguém” e “não entre”. Lá não existe fofura, a internet convencional já supre toda a nossa necessidade visual de gatinhos, porém o que pode haver de tão cruel que a humanidade jamais revelou? Nós, aqui do blog, iremos postar imagens para lá de cruéis que a humanidade mostrou de forma bem fria. Então, deixei o medo de lado e, curioso como sou, acessei a DW. A minha primeira tentativa foi um fracasso, como eu não sabia mexer, não consegui acessar absolutamente nada; experiência comum a usuários “noobs” (gíria usada na internet que significa quem não domina muito bem o que faz, um mero iniciante). A segunda tentativa foi mais bem-sucedida, já que eu tinha um link nas mãos, o da página de livros em português. Saber onde se quer ir é fundamental; ainda que exista uma Wikipedia na DW (a Hidden Wiki), é necessário ter o link, do contrário você acaba clicando em sites que não te agradariam ou não sai da página inicial.
Página inicial da Hidden Wiki, a Wipikedia da DW

Voltando à experiência: a DW é muito simples, sem qualquer layout e com letras toscas. A Hidden Wiki procura ser uma enciclopédia online e é organizada por tópicos como “assassinatos”, “prestações de serviços”, “aluguel de mulheres no Camboja”, “hackers”, “novo Iphone 5S”, “marijuana”, etc., de maneira explícita. Dá para entender o que é cada site sem saber nada de russo ou japonês, já que geralmente estão escritas ao lado palavras universais como “guns” ou “girls” e, quando o site está desativado, vem seguido de “broken” junto da data. No entanto, acho que a Hidden Wiki não dá conta de todos os sites que existem na DW e aí mora o perigo, já que você pode clicar no primeiro item que aparecer em sua frente. É bem difícil ir de um site ao outro, já que não existem os cookies, mas pode existir sim algum link que permita tal conexão. Os sites grotescos existem, mas você tem que buscá-los e saber onde ir. Na própria página da Hidden Wiki existe um tópico só para pornografia infantil que diz: “Where’s pedophilia? I want it! Keep calm and see it”. Existem ainda sites que só funcionam em um determinado horário do dia e que para acessá-lo você precisa se cadastrar por e-mail.
Creio friamente que exista um exagero em relação a DW, que se intensifica pelo próprio nome e criam-se assim lendas urbanas sobre o que rola lá embaixo na web. Em entrevista ao Diário do Vale, Rocío Miró, SEO (otimizadora de sites) de uma empresa, explica: ” Existe muito conteúdo que não é indexado, simplesmente porque é inadequado. Você não consegue indexar no Google coisas de baixa moral devido aos filtros que ele tem. O Google acredita que esse conteúdo não é proveitoso para o usuário e não quer apresentar isso. Tanto que se no meu blog começo a colocar links para sites pornô, por exemplo, o Google vai parar de me indexar. Então a parte tenebrosa do deep web seria isso”. A matéria continua afirmando que: ” há mecanismos de busca que ela considera “nojentos” e que foram criados justamente para se rastrear esse tipo de conteúdo ilegal. Navegadores especiais e programas específicos servem apenas para o usuário se manter anônimo e não ser encontrado como consumidor desse tipo de conteúdo, o que é crime”.
Há cerca de quinze anos atrás a internet era “terra de ninguém”, todas essas medidas de segurança só se intensificaram de alguns anos para cá. Sejamos sinceros, a segurança ainda fica muito a desejar; só nesse ano o Facebook deixou vazar dados de milhares de usuários. E estamos falando do poderoso Facebook, hoje a mais badalada rede social.
Que fique bem esclarecido que não incito ninguém a mergulhar em águas profundas. Cada um é dono de si e sabe o que vê ou não na internet, assim como sabe se vale a pena ou não se expôr ao risco de ataques que a DW oferece. O limite entre o ilegal e o legalizado é tênue e nem tudo que venha da Deep web é obrigatoriamente ilegal. Como eu já disse, você tem que saber exatamente onde clica; é aquela história da tia que baixa a barra de ferramentas do buscador tal sem saber.
Quando descobri a existência de um submundo na web, fiquei horrorizada. Não que eu não desconfiasse que existia algo do tipo, mas a forma como ela se dá é estranha, estranhamente superprotegida. A Deep web só revela que existe um outro lado não tão conhecido assim na web e a falta de acesso a ela torna-a um verdadeiro tabu.
Ao meu ver, a Deep web está em uma redoma e não a surface, como poderia se supor, já que ela que é excludente e usada por um número pequeno de usuários. As informações que não podemos acessar estão submersas e o processo de acesso à DW pode ser cansativo, lento e complicado. A parte não acessível a usuários comuns serve aos mais diversos propósitos, muito lógico para quem deseja total anonimato em suas práticas online. A web é uma ampliação do comportamento humano, tanto que o RH de muitas empresas usa seu perfil em redes sociais como definidor de caráter, pois suas atitudes online refletem quem você é para os especialistas na área. Quando se navega anonimamente, seu caráter não é revelado e fica difícil ser punido.
Não entendo como funciona a hierarquia na internet e sua totalidade técnica, mas desconfio que certos dados sobre a Deep web são falaciosos, bem como o gráfico que ilustra a capa dessa matéria. Não sou uma especialista no assunto, ainda que eu tenha contado com a ajuda de um programador para entender certos pontos, mas sei racionar e ser crítica. Acessando a DW, você começa a pensar em certos aspectos da liberdade de expressão e acesso às informações. A internet não deveria servir ao propósito de interligar dados e pessoas? Esse era o grande ideal: todas as informações online armazenadas em um grande banco de dados; mas o ideal nunca será atingido porque pessoas escondem fatos, além de existir valores éticos e morais que delimitam atitudes e comportamentos e, ao mesmo tempo, tais valores escondem sob os panos verdades que doem aos ouvidos.
A liberdade é controlada, as informações passam por filtros e a DW só nos mostra essa verdade de forma online. Quando encontramos sites como o Wikileaks, incomoda, e aí entra em ação a lei para impedir que “informações confidencias” sejam vazadas. Mas o que é confidencial hoje? Contas de usuários do Facebook não são? E porque dados de governos são?